A Klínica Perioimplantológica (KPI ) foi criada em 1996, pela médica dentista Susana Maria Perdigoto. Ao longo destes quase 30 anos de atividade, o paciente e a sua qualidade de vida estão no centro da sua preocupação, em todas as consultas de Medicina Dentária. Este espaço clínico tem-se notabilizado pelas diferentes apostas que tem feito, em áreas não tão frequentemente destacadas mas que, todavia, influenciam grandemente o estado de saúde geral do indivíduo, como os Distúrbios do Sono e a disfunção temporomandibular. A Periondotologia é, também, de destacar, dado que é de extrema importância, por exemplo, para pessoas diabéticas, cuja saúde oral impacta diretamente o controlo desta doença.
Como descreve o seu percurso profissional, na Medicina Dentária? Esta foi, desde sempre, a sua área de trabalho de eleição?
O meu percurso na Medicina Dentária tem sido pautado pela necessidade de estudar e entender a interrelação entre as patologias orais, entidades também como a dor orofacial, disfunção temporomandibular (DTM) e distúrbios do sono e o risco do paciente desenvolver outras patologias. Para mim é muito importante a saúde geral do paciente. Há muito que estudar na esfera da saúde oral. A Medicina Dentária tem muitos ramos e subespecialidades que são de uma grande abrangência e isso p ara mim é fascinante.
O que a levou a fundar, em 1996, uma clínica dentária?
Em 1996 iniciei um consultório médico-dentário. Era uma pequena clínica e eu generalista. Depois de ter feito um Master em Periodontologia e outro em Implantologia, decidi iniciar uma clínica nessas áreas, uma vez que a Periodontologia está relacionada com entidades como a diabetes, patologias cardiovasculares e outros distúrbios inflamatórios e o seu controlo fundamental para a saúde geral, e a Implantologia, uma vez que a reabilitação do
paciente de forma confortável e fixa também me interessava. Há 30 anos, as áreas da Implantologia e da Periodontologia eram muito incipientes na região, por isso eram uma inovação. De salientar que nem existia ensino
pós-graduado em Portugal e que para realizar pós-graduações era necessário ir estudar para fora. Em relação à Periodontologia, fiz a formação em Madrid, Berna e Buenos Aires. Na área da Implantologia, fiz formação também
em Espanha, Suécia, etc.
Ao longo destes 28 anos de funcionamento, que evolução nota no setor, na própria clínica e em si mesma, enquanto líder?
A Medicina Dentária em Portugal tem evoluído para clínicas grandes, de grandes grupos económicos. Eu prefiro uma clínica mais pequena e mais dirigida a uma individualização de tratamentos. Há cada vez mais um foco na estética de espaços, na valorização da estética e nos fluxos digitais dos tratamentos. A inteligência artificial tem um papel cada vez mais importante para a planificação de casos clínicos. Apesar de toda essa evolução, penso ser indispensável a relação médico-paciente, a avaliação, história clínica e os corretos diagnósticos que, sem avaliação médica personalizada, não são possíveis. Como líder, penso ter evoluído na perspetiva de ter uma equipa cada vez mais interdisciplinar. Digo equipa interdisciplinar e não multidisciplinar, porque tentamos comunicar entre nós de forma cada vez mais fluída e ter o paciente como fulcro principal do tratamento.
”Sempre fui trabalhadora e persistente.
Não gosto de desistir e gosto de abraçar
desafios novos”.
Que características acredita ter desenvolvido ou colocado ao serviço do seu lado profissional que a ajudaram, ao longo deste tempo em que tem um espaço clínico seu?
Sempre fui trabalhadora e persistente. Não gosto de desistir e gosto de abraçar desafios novos. Neste momento um dos meus desafios é a investigação, o doutoramento e a vida académica que associo à minha vida profissional clínica. Gosto muito de estudar, aprender e de aplicar conhecimentos adquiridos na melhoria da qualidade de diagnósticos feitos, uma vez que entendo que na Medicina, qualquer que seja a área, é preciso conhecer para diagnosticar, e na qualidade de tratamentos prestados.
Já tem quase 30 anos de carreira em espaço próprio. Ao longo deste tempo, que mudanças são notórias no mercado quando avalia, por exemplo, a presença de mais mulheres à frente dos seus próprios negócios?
Somos uma sociedade patriarcal. Não tenho dúvidas que na maioria das empresas, no caso das mesmas habilitações académicas são preferidos homens em relação às mulheres para ocupar cargos de chefia. Há mais mulheres licenciadas do que homens, mas a maioria dos cargos relevantes não nos são atribuídos. Acredito que temos de trabalhar mais e provar mais que muitos homens para obter a mesma oportunidade. Tenho tanto mulheres como homens a trabalhar em clínica e não existe no meu espaço discriminação de género. Creio que temos grandes exemplos na Medicina Dentária, como a professora Maria João Rodrigues, na área da DTM, ou a Professora Susana Falardo. Temos de educar as nossas filhas para a igualdade de direitos e de oportunidades e ensinar que as raparigas devem ser determinadas e não desistir dos seus próprios sonhos.
A KPI sempre se notabilizou enquanto referência, nas mais variadas áreas de especialidade. Quais as referências que são mais importantes de destacar? Há, atualmente, a possibilidade de se voltar a destacar, brevemente, com outras áreas ou serviços ao dispor da população?
Além das valências de Implantologia e Periodontologia, a Disfunção Temporomandibular, a Dor Orofacial e os Distúrbios do Sono têm sido valências muito importantes. A Disfunção Temporomandibular e a Dor Orofacial são altamente prevalentes. A DTM é a segunda entidade musculoesquelética mais prevalente depois da dor lombar crónica, e tem maior incidência em mulheres. Uma das razões é a maior quantidade de recetores de estrogénios na Articulação Temporomandibular e afeta a qualidade de vida dos pacientes. Trabalhar nesta área permite ajudar muito quem nos procura. Os distúrbios do sono, cada vez mais estudados, incluem a Apneia do Sono, o Bruxismo, as Insónias e outras alterações como perturbações de ritmo circadiano, por exemplo. Até na área da Apneia do Sono as crianças, mulheres e idosos são discriminados. Por exemplo, temos de sensibilizar a população para a Apneia do Sono das crianças, que pode ter sinais e sintomas semelhantes aos do deficit de atenção e hiperatividade. Estima-se que cerca de 30% das crianças com TDAH estão mal diagnosticadas por ausência de estudo do sono. É habitual falar da Apneia da mulher como se tivesse os mesmos sinais e sintomas da Apneia do Sono do homem, no entanto muitos questionários que se usam para screnning na Apneia do Sono do homem não estão validados para o estudo da Apneia do Sono na mulher. Os sinais e sintomas na mulher confundem-se com os da menopausa, altura onde as mulheres apresentam maior grau de Apneia do Sono. As mulheres grávidas também são pouco estudadas, com todas as implicações que a Apneia do Sono, tão prevalente no segundo e terceiro trimestres de gravidez, tem para a saúde da grávida e do recém-nascido. A importância do médico dentista nesta área é crucial, porque vemos todos os dias os pacientes com a boca aberta e podemos, se estivermos atentos e formos conhecedores, perceber os pacientes em risco de sofrer de tais patologias. Além disso, nas crianças existem aparelhos funcionais e de expansão rápida que, associados a outros tratamentos, permitem tratar as crianças, evitando danos futuros. Os médicos dentistas com formação em Medicina do Sono também executam aparelhos de avanço mandibular, que estão indicados para o tratamento do ressonar, da apneia leve e moderada, e em todos os casos de gravidade de apneia, no caso de o paciente rejeitar o CPAP. Uma vez que em Portugal apenas existem pequenos cursos de DTM e Sono, fiz mestrado em Espanha, onde fui convidada a lecionar e estou a realizar o meu doutoramento na área da epigenética e distúrbios do sono, A epigenética tem a ver com as alterações hereditárias que são transmitidas de pais para filhos, mas que não alteram as bases do ADN. Tem a ver com as interações ambientais e o genoma. Poder entender as correlações ambiente / genoma / saúde é de extraordinária importância. Estas valências, como estudos genéticos, são para mim o futuro e de certeza uma das apostas da minha própria clínica.
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